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terça-feira, setembro 16, 2014

Uma feminista instrumentaliza o próprio aborto

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Sara Winter, em versão Dia dos Namorados

"Alguns minutos antes de colocar o cytotec na boca, eu coloquei minhas mãos no ventre e disse 'Filha, eu vou deixar você nascer mais tarde, numa família saudável, sem um pai com problemas alcoólicos, sem sermos abandonadas.'"
E assim a ativista Sara Winter matou sua filha em seu ventre, conforme ela divulgou em sua página no Facebook. Sara deu estas informações, segundo ela, na "esperança de ajudar milhares de mulheres a se sentirem representadas, sentirem que não estão sozinhas".

Ela informa também que já não mais poderá ter filhos, pois devido a complicações do aborto -- uma grave infecção nas "trompas uterinas" -- seu médico lhe disse que ela provavelmente não poderá ter um filho de novo.

Sara, claro, tem suas justificativas:
"Se o aborto fosse legal, gratuito e seguro, eu ainda teria minha opção. O abandono do ex-marido, a negligência do Estado e a intromissão da Instituição Cristã nas decisões de políticas públicas para as mulheres roubaram de mim o sonho de poder ser mãe."
A ativista também declarou estar "disposta a conselhar e ajudar de toda e qualquer maneira possível cada mulher desesperada que não quer dar continuidade na gestação".

Ok, Sara, nós entendemos.

Entendemos que você, mesmo tendo plena consciência de que já havia dentro de você uma vida humana, para sua própria conveniência resolveu dar cabo da vida de sua filha não-nascida e jogá-la na rede de esgoto ou no lixo comum.

Entendemos que você, que se diz feminista (o que não tem nada a ver com o verdadeiro feminismo ou com suas origens - ver "Feministas: ontem e hoje"), curiosamente tentou justificar para sua filha, a quem ia matar, que os "problemas alcóolicos" do pai dela era um dos motivos pelos quais ela tinha que morrer.

Entendemos que o teu feminismo, a mesma ideologia que te faz "protestar" com os seios à mostra por qualquer motivo tosco, te deixou tão independente dos homens que você não suportou o abandono do ex-marido e resolveu eliminar a vida de tua filha. Como você é independente, Sara! Será que tantas mulheres que têm a coragem de criarem seus filhos sozinhas deveriam seguir teu belíssimo exemplo? E note que você vive em uma época que o termo "mãe solteira" não é mais estigma entre nós.

Entendemos, Sara, que para você todos têm culpa porque você não mais poderá ter filhos: o ex-marido, o Estado, a Igreja, etc. Só quem tem nada com isto é você, não é mesmo? Pena que tua filha nunca mais estará entre nós, pois no futuro talvez ela pudesse dizer a você que soa bem ridículo quem toma uma pílula que sabe que eliminará um ser humano, que envolve riscos inúmeros para a própria saúde, e que fica querendo culpar a todos, menos a si mesma pelos problemas que daí vieram.

Entendemos que você quer passar para todos a idéia de ser uma mulher "poderosa", "guerreira", "independente", mas quando a coisa aperta aí você fala em família, fala em ter sido abandonada, mostra tanta dependência de um homem -- e um com "problemas de alcoolismo"! -- que prefere eliminar a própria filha do que ter de lidar com uma realidade em que você poderia deixar tua retórica ter algum valor no mundo real.

Entendemos, Sara, que desde que o FEMEN disse que você não servia para líder teu espaço na mídia vem definhando e atitudes como esta de falar de aborto e se colocar como exemplo vêm muito a calhar para tua "carreira", não é mesmo? Afinal, você até mesmo tentou fazer parte da última edição do Big Brother Brasil, programa que já havia sido criticado por você mesma! Ou seja, você tem se ocupado de corpo e alma para ter alguma relevância no cenário nacional, mesmo que seja nas páginas do jornal "O Dia".

Enfim, nós entendemos, Sara, tua necessidade extrema de atenção. Afinal, ter 22 anos e um comportamento de uma menininha mimada de 12 anos não deve mesmo ser fácil para ninguém. A vida adulta não parece ser para todos, não é mesmo?

Mas sabe o que não dá para entender? É como você, que se diz feminista, foi capaz, segundo tuas próprias palavras, de ficar sangrando por 3 semanas após o aborto com Cytotec sem procurar um médico. Como você ficou com "febre altíssima" e tendo "cólicas horríveis" durante tanto tempo sem se dar conta de que deveria procurar ajuda? E você quer que acreditemos que isto foi devido a você estar com medo de ser denunciada? É sério isto? Logo você, Sara, que quer passar uma imagem de tão senhora de si, logo você estava com medo de que médicos te denunciassem? Sério mesmo?

Não dá para entender, Sara, que você, como várias das feministas atuais, diz que luta pelo "direito ao próprio corpo", tenha tratado tão mal o próprio corpo, permitindo-o sangrar por 3 semanas, permitindo que uma infecção se alastrasse pelas suas trompas uterinas até resolver procurar ajuda. É para tratar tão mal teu próprio corpo que você diz que luta pelo direito a ele? Aliás, é peculiar também que você queira o direito ao próprio corpo, mas que isto não te baste, pois, caso você não saiba, o corpo de tua filha que você eliminou não era teu corpo, até o DNA dela era diferente do teu. 

E o que realmente não dá para entender é que você tenha tido tanto medo de procurar ajuda médica para se tratar porque achava que seria denunciada, mas que subitamente todo este medo tenha desaparecido ao relatar tua experiência a um jornal de grande circulação. E isto nem ficou apenas no relato do que aconteceu contigo... Você também declarou estar "disposta a conselhar [sic] e ajudar de toda e qualquer maneira possível cada mulher desesperada que não quer dar continuidade na gestação". Ou seja, você, que temia ser denunciada por ter cometido um aborto, agora não tem mais medo algum, estando disposta até mesmo a servir de conselheira para quem deseja cometer o mesmo ato, ato este que continua sendo crime no Brasil. É impressionante como tua coragem apareceu novamente quando um jornal te procurou para falar de aborto!

Enfim, o aborto não parece ter sido um problema para Sara Winter, pois ela vem até mesmo procurando instrumentalizá-lo para sua carreira. O aborto de Sara foi um problema mesmo para sua filha abortada, pois foi ela quem foi sacrificada por uma mãe que parece apenas preocupada em representar um personagem patético criado por sua mente delirante. E isto é triste, bem triste.

segunda-feira, setembro 15, 2014

Números do aborto no Brasil: há os que só querem confundir

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Como eu já havia apontado em uma postagem recente ("E assim os favoráveis ao aborto aproveitam as tragédias..."), os abutres favoráveis ao aborto sentiram o cheiro da carniça a partir do caso do desaparecimento da jovem Jandira Magdalena dos Santos Cruz, que supostamente iria para uma clínica de abortos e depois não foi mais vista. A vez agora é do jornal "O Dia", do Rio de Janeiro, que resolveu pular no bonde para se aproveitar de um drama pessoal e questionar a proibição do aborto no Brasil.

Quem lida com o tema do aborto no Brasil pode logo notar na reportagem que não há qualquer referência ao número de abortos no Brasil. O próprio título da reportagem -- "Número de interrupções clandestinas de gravidez é mistério" --, tirando-se o palavrório produzido por ONGs abortistas ("interrupções clandestinas de gravidez"), diz que o número de abortos no Brasil é um mistério. Isto não deixa de ser curioso, pois o número de abortos feitos no Brasil sempre apareceu em reportagens veiculadas na imprensa. Para se ter uma idéia, o número de abortos anuais já foi divulgado como sendo até 4.000.000, mas em matérias recentes a mentira estatística parece ter estabilizado em 1.000.000.

Em uma postagem aqui no blog ("Veja e o aborto: números fictícios"), já foi mostrado que estes números são tirados do nada, não têm qualquer fundamento aceitável. Como já é tática conhecida dos favoráveis ao aborto, os números, e principalmente os óbitos maternos relacionados a aborto, são absurdamente inflados para que a opinião pública seja flexibilizada em sua rejeição do aborto.

Logo, causa estranheza que o jornal O Dia não divulgue a marca corriqueira e fictícia de 1.000.000 de abortos anuais, preferindo dizer que os dados sobre aborto são superficiais. Subitamente, para a imprensa, o número de abortos, que era uma certeza sempre na casa dos milhões, tornou-se um "mistério". O mais engraçado é que este número apenas agora tornou-se um mistério, pois quando não havia qualquer dado a respeito a imprensa chegava ao ponto de afirmar que eram 4.000.000 o número de abortos no Brasil. Somos mesmo uma nação peculiar: conforme mais temos dados, menos confiamos neles, desde, claro, que os dados não mostrem o que certos grupos desejam que seja mostrado.

O mais curioso é que o jornal O Dia falou com representantes do Ministério da Saúde e estes foram capazes de lhes fornecer informações sobre os dados do que é chamado de "aborto legal", mas os números do aborto permaneceram um "mistério". Será que o Ministério da Saúde sabe que existem dados disponíveis sobre morte materna na página do DATASUS, órgão do próprio Ministério da Saúde? Será que a repórter de O Dia responsável pela matéria também não conseguiu achar a página do DATASUS na internet?

Se os representantes do Ministério da Saúde ou o jornal O Dia tivessem feito um trabalho decente, eles poderiam dar ao menos as informações que temos já disponíveis em relação às mortes maternas devidas a falhas de aborto e que estão disponíveis no site do DATASUS. Se assim procedessem eles obteriam a informação de que, de 1996 a 2012, 174 mulheres perderam suas vidas devido a falhas de tentativa de aborto, o que dá uma média anual de 10,23. Imagina-se que a falta de interesse tanto do Ministério da Saúde quanto do jornal em divulgar estes dados seja devida ao número estar abaixo do padrão deles, bem diferente das 200.000 mortes maternas devido a complicações com aborto que já foram divulgadas por ONGs abortistas e compradas pela imprensa, o que se mostrou uma rematada farsa.

Se para os pró-vidas cada morte por tentativa de aborto -- e é bom que se diga o óbvio: a cada aborto "eficiente" ao menos uma morte já ocorre -- é uma tragédia, para os abortistas a tragédia só vale se os números forem milhares ou milhões, de preferência.

Um trecho interessantíssimo da reportagem é o seguinte:
"Um dos receios das mulheres que se submetem a um aborto, e que pode resultar em sequelas graves, como a infertilidade e até a morte, é procurar unidades para fazer exames depois. “O médico não pode contar a ninguém se a mulher revelar pra ele que fez um aborto clandestino. Ele coloca no prontuário a informação, assim como o pedido de exames, medicamentos, mas a divulgação só pode ocorrer se a paciente autorizar por escrito”, revela o presidente do Cremerj, Sidnei Ferreira. O órgão defende uma discussão séria por parte dos governantes sobre o assunto. “A questão é que não pode mais morrer mulher, nem ficar com sequelas, porque o aborto é um crime. O governo tem que entender que é problema de saúde pública”, afirmou Ferreira."
Entende-se que o que o jornal pretendia alertar que muitas mulheres após a prática do aborto sentem-se pouco propensas a procurar os serviços médicos. Porém é o próprio jornal que mostra que o direito do paciente à privacidade de sua condição está sendo respeitado, mesmo que isto esteja atualmente levando à condição de acobertamento velado de um crime.

Mas o mais legal fica para quando o presidente do Cremerj entra em cena. e insinua que mulheres morrem porque o aborto é crime. E isto foi dito por quem declara que o órgão que representa defende "uma discussão séria" sobre o assunto por parte dos governantes! Sei, sei... Então falemos seriamente: mulheres morrem e ficam com seqüelas devido ao aborto, porque cometem um crime contra a vida e porque há gente que as deveria ajudar e mostrar alternativas e, ao invés disto, fica por aí dizendo que a solução é a descriminalização pura e simples do aborto, como aliás parece ter sido o caso triste da jovem Jandira Magdalena.

E deixemos uma coisa clara para o presidente do Cremerj e que talvez ele ainda não saiba: o governo já entende o aborto como um problema de Saúde Pública. E o faz assim tanto por opção ideológica quanto por cálculo, pois lhe é infinitamente mais fácil colocar a culpa na legislação restritiva ao aborto que dar condições para que todas as mulheres possam ter seus filhos. Mas é bem curioso que o presidente do Cremerj venha falar sobre o aborto como um "problema de Saúde Pública" mas se esqueça de falar de outras causas que causam a morte materna e que são muito mais graves em nosso país.

Utilizando-se os dados disponíveis no DATASUS, como já fiz em outras oportunidades aqui no blog ("Estatísticas abortistas? Não, obrigado." e "A manipulação abortista dos números do aborto no Brasil"), mais uma vez recolhi os dados disponíveis referentes a mortes maternas, desta vez no período de 1996 até 2012, último ano disponível. Os dados estão abaixo e podem ser obtidos por quem assim o desejar.

Número de mortes maternas por diversas causas - 1996 a 2012
Clique para ampliar

Marcado com um círculo em vermelho está a linha que marca as mortes maternas devidas a falhas em tentativa de aborto, dado que já foi referido acima no texto, que totaliza 174 mortes no período de 1996 a 2012, com média de 10,23 mortes ao ano. Mas o dado mais significativo desta tabela é a posição que ocupa a classificação "O07   Falha de tentativa de aborto": ela é a 29a. causa de morte materna. E isto reflete o que já acontecia há 2 anos, quando obtive estes dados pela última vez e é por isto que o que escrevi então permanece válido:
"Nesta tabela estão relacionadas todas as causas de óbitos maternos, ordenada decrescentemente. Há de tudo um pouco... Mulheres que morrem devido a hemorragias, infecções, embolias, eclampsia, hipertensão gestacional, etc. Há causas que são claramente relacionadas à falta de condições hospitalares, à incompetência do pessoal de área, à falta de um pré-natal de qualidade, etc. Muitas mortes poderiam ser evitadas com uma coisa que vem faltando há muito em nossos governantes: vontade."
A única vontade que há é de liberar o aborto, isto nada tem a ver com ajudar mulheres. Se desejam mesmo ajudar as mulheres que morrem devido a complicações na gravidez, há 28 causas a serem atacadas antes que as mortes por aborto procurado tenham vez, mas não é o que acontece, claro. Se desejam mesmo ajudar as mulheres, olhar para os dados que já existem e que são coletados pelo próprio governo seria um bom ponto de partida. 

O grande mistério é que haja tanta gente para falar de aborto como problema de Saúde Pública enquanto simplesmente ignora dezenas de outras causas de mortes maternas que poderiam ser minimizadas e ter um impacto considerável na vida de outras mulheres. Mas o que parece ficar claro mesmo é que para muitos a vida das mulheres e de seus filhos são detalhes a serem sacrificados no altar de uma ideologia. A autora da reportagem fala que o "mistério" do número de abortos no Brasil é devido a um "silêncio que mata", mas o que mata mesmo é a confusão que certos órgãos de imprensa e associações de classe ajudam a criar.

sexta-feira, setembro 12, 2014

O intenso brilho da vida de Adelaide Caines

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O nascimento de Adelaide
O aborto é a cruel e autoritária negação de uma realidade que já existe a partir da concepção. Favorecer o aborto é ter a ingrata e impossível tarefa de ir contra uma realidade que é por demais óbvia, realidade mesma que já é atestada pela Ciência.

É esta realidade que brilha para quem quiser vê-la. A verdade tem uma luz própria que jamais se apaga, por mais que muitos homens se recusem a encará-la, achando que assim poderão diminuí-la ou eliminá-la.

Foi esta realidade que brilhou quando o casal  britânico Alastair e Emily Caines resolveu divulgar a foto do nascimento de sua filhinha Adelaide, que nasceu prematuramente com 24 semanas de gestação. É bom que se diga que no Reino Unido 24 semanas é o tempo limite para o aborto por demanda. E é aí que a foto de Adelaide no momento de seu nascimento é de fazer cair as escamas dos olhos de quem insiste em negar o fato de que já existe um novo ser humano após a concepção. 

Eis o que declarou Emily Caines:

"Esta fotografia mostra que Adelaide não era um feto. Ela era um ser humano já formado e pensar que um bebê como ela pode ser legalmente abortado é horripilante para mim."

Adelaide, infelizmente, faleceu devido à sua prematuridade. Os médicos não conseguiram ajudar a pequenina Adelaide a respirar por aparelhos e ela se foi. A dor imensa que Emily e seu marido sentiram com o falecimento de sua bebezinha não era nova para ela, pois Emily já havia perdido uma outra bebezinha tempos atrás com 23 semanas.

"Minha primeira filha nasceu com 23 semanas e foi classificada como aborto espontâneo. Adelaide nasceu com 24 semanas e seu falecimento foi classificado como morte neonatal, mas elas pareciam exatamente a mesma."

Preparar o funeral de Adelaide foi novamente doloroso para Emily Caines e o que mais ajudou nesta provação foi pensar que suas duas filhinhas estavam agora juntas.

Emily, cheia de um amor que é bem próprio das mães, disse isto:

"Nossa filha pode não ter vivido muito, mas ela ainda era minha filha e nós adoramos falar sobre ela e celebrar sua vida."

E foi por isto e para levantar o debate sobre o absurdo limite de 24 semanas para um aborto legal no Reino Unido -- limite que é ultrapassado inúmeras vezes -- que Emily resolveu divulgar amplamente a foto do nascimento de sua filha. 

Claro está que qualquer limite que se coloque para o aborto é absurdo e arbitrário. Não são conexões nervosas ou órgãos formados que nos tornam humanos. Somos humanos desde a concepção e não há momento posterior à concepção em que herdamos nossa humanidade como num passe de mágica. Ou somos humanos a partir daquele momento ou jamais o seríamos depois.

E a vida curta, mas de intenso brilho, da pequenina Adelaide tornou claríssima esta verdade que vai inscrita nos corações dos homens. Mesmo que muitos insistam em negar tal verdade, ela está lá e permanece, pois a vida persiste e se afirma mesmo frente às arbitrariedades dos homens.

Impressões das mãos e pés de Adelaide Caines


Emily, Alastair e Adelaide Caines



quinta-feira, setembro 11, 2014

E assim os favoráveis ao aborto aproveitam as tragédias...

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Uma das coisas mais pitorescas com a questão do aborto no Brasil é a qualidade do debate. Os abortistas, da mesma forma que espertamente dizem que querem que a sociedade debata o assunto, são os que interditam qualquer tipo de debate, ou, quando isto não acontece, o que eles têm a dizer sobre a questão ou é irrelevante ou trata-se apenas de clichês requentados.

Foi o que aconteceu nesta quinta-feira na edição do jornal O Globo com a coluna da jornalista Cora Ronái, "O lado B da democracia". Eis o trecho infeliz:

"Não sei o que acho pior: uma candidata que é abertamente contra o aborto, uma candidata que não tem coragem de dizer que não é ou um candidato que se diz satisfeito com a nossa legislação obscurantista. As três posições se equivalem. Estamos em pleno ano de 2014, Constantinopla caiu em 1453 e, não obstante, continuamos gastando tempo e energia com essa discussão bizantina.  
Fazer ou não fazer aborto é questão de foro íntimo. Quem for contra aborto que não aborte, mas não queira impor as suas convicções ao resto da sociedade. Sabemos onde isso vai dar: aí está essa pobre moça sumida, obrigada pela excelente legislação em vigor a procurar criminosos para se livrar da gravidez indesejada."

O que é pior mesmo é uma jornalista achar que a liberação do aborto trata-se de uma discussão bizantina. Entende-se o recurso retórico pueril de utilizar conhecimentos do ensino ginasial -- provavelmente ela esperou a vida inteira para conseguir colocar a data da queda de Constantinopla em um de seus textos --, mas ela dizer que a discussão sobre o aborto é bizantina é apenas sinal de sua ignorância sobre o assunto.

Se os candidatos A, B e C preferem desconversar sobre o assunto o problema é a falta de seriedade com a qual este assunto e outros mais são tratados no Brasil e um exemplo perfeito disto é exatamente este texto de Cora Ronái. Ao dizer que "as três posições se equivalem" a jornalista só contribui para a confusão que reina. É evidente que ela procede assim porque tem uma agenda, que para ela a única coisa que parece valer é a liberação total do aborto. 

Se fazer ou não aborto é uma questão de foro íntimo, assassinar ou não assassinar também é. Corromper ou não corromper também. Idem para sequestrar ou não sequestrar. Cora Ronái vai ter peito para levantar estas bandeiras também? Por coerência, devia ter, não é mesmo? Ela devia, por exemplo, defender o direito de um assassino matar suas vítimas e bradar contra quem acha isto absurdo, pois, afinal, não se deve impor convicções ao resto da sociedade, certo?

O problema com este "argumento" da jornalista é que ela assume que o que está no ventre da mãe é nada, o que é desmentido pela própria ciência, que afirma que a vida humana começa na concepção. E aí, será que ela vai querer ir contra o que a própria ciência já sabe sobre Embriologia Humana? Ou será que Cora Ronái, mesmo sabendo (e ela sabe... ah, se sabe...) que já existe um ser humano no ventre da mãe, pouco se importa com este detalhe? Aí então ela deveria abordar a questão sobre um outro prisma: deveria explicar por que, segundo sua sapiente ótica, seres humanos frágeis e inocentes devem morrer pela conveniência ou vontade de outros. O que justifica que um ser humano mate outro, sendo este frágil e inocente, que sequer tem voz para clamar por justiça? E já que ela é afeita a fatos aprendidos em aulas de História do ginásio, seria ótimo se ela listasse as vezes na história em que tais atitudes tomaram forma de regimes totalitários e deixaram em seu rastro o sangue de milhões de inocentes.

Mas como os favoráveis ao aborto sempre que sentem o cheiro de carniça ficam em polvorosa, a jornalista aproveitou a deixa e tenta colocar na conta da legislação ainda restritiva ao aborto o caso da jovem Jandira Magdalena Cruz, que desapareceu, segundo informações, após ter entrado em um carro que supostamente a levaria para uma clínica de abortos na Zona Oesto da cidade do Rio de Janeiro. Cora Ronái diz que nossa "excelente legislação" obrigou Jandira "a procurar criminosos para se livrar da gravidez indesejada". Sério? Da última vez que li o Código Penal, não havia nenhuma obrigação de fazer aborto para quem quer que fosse. Na verdade, a punição que ali vai tem a intenção exatamente contrária: fazer que a pessoa tome consciência da gravidade do ato cometido, que é a eliminação de uma vida humana.

Está bem que a jornalista mais uma vez usava de um recurso retórico para puxar a brasa para sua sardinha, isto está claro. Geralmente quem apenas quer que sua opinião prevaleça usa de tais expedientes, mas a verdade, porém, a verdade nua e crua, é que a jovem procurou criminosos que atentam contra a vida porque também ela procurava cometer um crime contra a vida. É evidente que seu desaparecimento e possível morte é uma tragédia, e é exatamente este tipo de tragédia que é evitada por quem não procura cometer o crime do aborto. Vem daí que querer usar tal caso como forma de alavanca para a liberação do aborto é um salto enorme e uma instrumentalização pura e simples da tragédia alheia.

A coisa torna-se ainda pior quando vemos que o desaparecimento da jovem é uma sucessão de erros. Segundo depoimento de seu ex-marido, Leandro Brito Reis, que foi quem a levou até o terminal rodoviário onde Jandira entrou no carro que a conduziria para a clínica de abortos, “Ela se envolveu com um homem, engravidou e queria tirar. Quem indicou a clínica foi uma amiga dela de infância, que disse que uma outra amiga, que teria feito um aborto nesse mesmo lugar, tinha sido muito bem tratada". Pois é... A jovem, segundo informações de sua mãe, estava para reatar o relacionamento com o ex-marido:  "Ela disse pra mim: 'Eu conversei com o Leandro e, depois que a gente resolver o que a gente disse que ia fazer (o aborto), a gente vai ver se recomeça tudo de novo'. Foi isso que ela me disse". A mãe da jovem contou também que Jandira e o ex-marido brigavam muito e se agrediam quando estavam juntos.

Ou seja, o quadro que se tem é negro. Uma jovem que estava em um relacionamento abusivo, já tendo sofrido agressões (que foram motivos de queixas à polícia), termina o relacionamento, envolve-se com uma outra pessoa, engravida e depois resolve voltar para o ex-marido. Para que o relacionamento tenha um recomeço, eles resolvem abortar a criança fruto do relacionamento anterior de Jandira. Para conseguir o aborto, uma amiga de infância indica a ela uma clínica e a jovem acaba nas mãos de criminosos que iriam matar seu filho não-nascido.

É tanta coisa errada que fica difícil alguém imaginar como Cora Ronái teve a capacidade de tentar jogar para a legislação restritiva ao aborto (e por tabela, claro, a quem é contrário a esta prática) a culpa por tudo isto. Jandira não teve forças necessárias para sair totalmente de um relacionamento que lhe era abusivo, seu ex-marido tampouco teve a dignidade de saber que o que estava no ventre de sua ex-esposa era um ser humano que devia ser preservado e não que ele ajudasse a matá-lo, e a tal "amiga de infância", ao invés de realmente apoiar sua amiga e lhe mostrar o erro em que estava se metendo, resolveu encaminhar Jandira para as mãos de criminosos. Some-se a tudo isto que os acusados pelo desaparecimento, segundo informações, são dois policiais que já haviam sido acusados de crime de aborto em outros casos, e que agora, somente agora,  foram colocados em funções administrativas e responderão a processo disciplinar. Também está envolvida uma técnica de enfermagem que já havia sido acusada pela prática de aborto em três outros processos!

E o mais triste de tudo isto é saber que aqueles que estavam ao redor de Jandira -- o ex-marido, sua "amiga", familiares --, não foram capazes ou não se interessaram em demovê-la da idéia ou mostrar-lhe alternativas que ela talvez não conseguisse enxergar naquele momento. Enfim, uma tragédia completa. 

É esta tragédia que gente como Cora Ronái procura instrumentalizar para a causa abortista alegando, de forma simplória e fútil, que Jandira queria apenas se "livrar de uma gravidez indesejada"? Sua própria escolha de palavras ("livrar"?), já indica o que ela acha de uma gravidez, preferindo ignorar o ser humano já concebido. Não é à toa que ela acha bizantina a discussão sobre o aborto, é porque ela parece nem sequer entender o que há de importante e o que está envolvido na questão, e assim a melhor alternativa parece ser escrever de forma superficial e aproveitar tragédias alheias.