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segunda-feira, setembro 15, 2014

Números do aborto no Brasil: há os que só querem confundir

Como eu já havia apontado em uma postagem recente ("E assim os favoráveis ao aborto aproveitam as tragédias..."), os abutres favoráveis ao aborto sentiram o cheiro da carniça a partir do caso do desaparecimento da jovem Jandira Magdalena dos Santos Cruz, que supostamente iria para uma clínica de abortos e depois não foi mais vista. A vez agora é do jornal "O Dia", do Rio de Janeiro, que resolveu pular no bonde para se aproveitar de um drama pessoal e questionar a proibição do aborto no Brasil.

Quem lida com o tema do aborto no Brasil pode logo notar na reportagem que não há qualquer referência ao número de abortos no Brasil. O próprio título da reportagem -- "Número de interrupções clandestinas de gravidez é mistério" --, tirando-se o palavrório produzido por ONGs abortistas ("interrupções clandestinas de gravidez"), diz que o número de abortos no Brasil é um mistério. Isto não deixa de ser curioso, pois o número de abortos feitos no Brasil sempre apareceu em reportagens veiculadas na imprensa. Para se ter uma idéia, o número de abortos anuais já foi divulgado como sendo até 4.000.000, mas em matérias recentes a mentira estatística parece ter estabilizado em 1.000.000.

Em uma postagem aqui no blog ("Veja e o aborto: números fictícios"), já foi mostrado que estes números são tirados do nada, não têm qualquer fundamento aceitável. Como já é tática conhecida dos favoráveis ao aborto, os números, e principalmente os óbitos maternos relacionados a aborto, são absurdamente inflados para que a opinião pública seja flexibilizada em sua rejeição do aborto.

Logo, causa estranheza que o jornal O Dia não divulgue a marca corriqueira e fictícia de 1.000.000 de abortos anuais, preferindo dizer que os dados sobre aborto são superficiais. Subitamente, para a imprensa, o número de abortos, que era uma certeza sempre na casa dos milhões, tornou-se um "mistério". O mais engraçado é que este número apenas agora tornou-se um mistério, pois quando não havia qualquer dado a respeito a imprensa chegava ao ponto de afirmar que eram 4.000.000 o número de abortos no Brasil. Somos mesmo uma nação peculiar: conforme mais temos dados, menos confiamos neles, desde, claro, que os dados não mostrem o que certos grupos desejam que seja mostrado.

O mais curioso é que o jornal O Dia falou com representantes do Ministério da Saúde e estes foram capazes de lhes fornecer informações sobre os dados do que é chamado de "aborto legal", mas os números do aborto permaneceram um "mistério". Será que o Ministério da Saúde sabe que existem dados disponíveis sobre morte materna na página do DATASUS, órgão do próprio Ministério da Saúde? Será que a repórter de O Dia responsável pela matéria também não conseguiu achar a página do DATASUS na internet?

Se os representantes do Ministério da Saúde ou o jornal O Dia tivessem feito um trabalho decente, eles poderiam dar ao menos as informações que temos já disponíveis em relação às mortes maternas devidas a falhas de aborto e que estão disponíveis no site do DATASUS. Se assim procedessem eles obteriam a informação de que, de 1996 a 2012, 174 mulheres perderam suas vidas devido a falhas de tentativa de aborto, o que dá uma média anual de 10,23. Imagina-se que a falta de interesse tanto do Ministério da Saúde quanto do jornal em divulgar estes dados seja devida ao número estar abaixo do padrão deles, bem diferente das 200.000 mortes maternas devido a complicações com aborto que já foram divulgadas por ONGs abortistas e compradas pela imprensa, o que se mostrou uma rematada farsa.

Se para os pró-vidas cada morte por tentativa de aborto -- e é bom que se diga o óbvio: a cada aborto "eficiente" ao menos uma morte já ocorre -- é uma tragédia, para os abortistas a tragédia só vale se os números forem milhares ou milhões, de preferência.

Um trecho interessantíssimo da reportagem é o seguinte:
"Um dos receios das mulheres que se submetem a um aborto, e que pode resultar em sequelas graves, como a infertilidade e até a morte, é procurar unidades para fazer exames depois. “O médico não pode contar a ninguém se a mulher revelar pra ele que fez um aborto clandestino. Ele coloca no prontuário a informação, assim como o pedido de exames, medicamentos, mas a divulgação só pode ocorrer se a paciente autorizar por escrito”, revela o presidente do Cremerj, Sidnei Ferreira. O órgão defende uma discussão séria por parte dos governantes sobre o assunto. “A questão é que não pode mais morrer mulher, nem ficar com sequelas, porque o aborto é um crime. O governo tem que entender que é problema de saúde pública”, afirmou Ferreira."
Entende-se que o que o jornal pretendia alertar que muitas mulheres após a prática do aborto sentem-se pouco propensas a procurar os serviços médicos. Porém é o próprio jornal que mostra que o direito do paciente à privacidade de sua condição está sendo respeitado, mesmo que isto esteja atualmente levando à condição de acobertamento velado de um crime.

Mas o mais legal fica para quando o presidente do Cremerj entra em cena. e insinua que mulheres morrem porque o aborto é crime. E isto foi dito por quem declara que o órgão que representa defende "uma discussão séria" sobre o assunto por parte dos governantes! Sei, sei... Então falemos seriamente: mulheres morrem e ficam com seqüelas devido ao aborto, porque cometem um crime contra a vida e porque há gente que as deveria ajudar e mostrar alternativas e, ao invés disto, fica por aí dizendo que a solução é a descriminalização pura e simples do aborto, como aliás parece ter sido o caso triste da jovem Jandira Magdalena.

E deixemos uma coisa clara para o presidente do Cremerj e que talvez ele ainda não saiba: o governo já entende o aborto como um problema de Saúde Pública. E o faz assim tanto por opção ideológica quanto por cálculo, pois lhe é infinitamente mais fácil colocar a culpa na legislação restritiva ao aborto que dar condições para que todas as mulheres possam ter seus filhos. Mas é bem curioso que o presidente do Cremerj venha falar sobre o aborto como um "problema de Saúde Pública" mas se esqueça de falar de outras causas que causam a morte materna e que são muito mais graves em nosso país.

Utilizando-se os dados disponíveis no DATASUS, como já fiz em outras oportunidades aqui no blog ("Estatísticas abortistas? Não, obrigado." e "A manipulação abortista dos números do aborto no Brasil"), mais uma vez recolhi os dados disponíveis referentes a mortes maternas, desta vez no período de 1996 até 2012, último ano disponível. Os dados estão abaixo e podem ser obtidos por quem assim o desejar.

Número de mortes maternas por diversas causas - 1996 a 2012
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Marcado com um círculo em vermelho está a linha que marca as mortes maternas devidas a falhas em tentativa de aborto, dado que já foi referido acima no texto, que totaliza 174 mortes no período de 1996 a 2012, com média de 10,23 mortes ao ano. Mas o dado mais significativo desta tabela é a posição que ocupa a classificação "O07   Falha de tentativa de aborto": ela é a 29a. causa de morte materna. E isto reflete o que já acontecia há 2 anos, quando obtive estes dados pela última vez e é por isto que o que escrevi então permanece válido:
"Nesta tabela estão relacionadas todas as causas de óbitos maternos, ordenada decrescentemente. Há de tudo um pouco... Mulheres que morrem devido a hemorragias, infecções, embolias, eclampsia, hipertensão gestacional, etc. Há causas que são claramente relacionadas à falta de condições hospitalares, à incompetência do pessoal de área, à falta de um pré-natal de qualidade, etc. Muitas mortes poderiam ser evitadas com uma coisa que vem faltando há muito em nossos governantes: vontade."
A única vontade que há é de liberar o aborto, isto nada tem a ver com ajudar mulheres. Se desejam mesmo ajudar as mulheres que morrem devido a complicações na gravidez, há 28 causas a serem atacadas antes que as mortes por aborto procurado tenham vez, mas não é o que acontece, claro. Se desejam mesmo ajudar as mulheres, olhar para os dados que já existem e que são coletados pelo próprio governo seria um bom ponto de partida. 

O grande mistério é que haja tanta gente para falar de aborto como problema de Saúde Pública enquanto simplesmente ignora dezenas de outras causas de mortes maternas que poderiam ser minimizadas e ter um impacto considerável na vida de outras mulheres. Mas o que parece ficar claro mesmo é que para muitos a vida das mulheres e de seus filhos são detalhes a serem sacrificados no altar de uma ideologia. A autora da reportagem fala que o "mistério" do número de abortos no Brasil é devido a um "silêncio que mata", mas o que mata mesmo é a confusão que certos órgãos de imprensa e associações de classe ajudam a criar.

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